segunda-feira, 18 de abril de 2011

2# - A Maldição de Capistrano

Introdução:
Numa taberna, o fanfarrão sargento Pedro Gonzales falava sobre o misterioso fora-da-lei conhecido como 'El Zorro', o que significa 'A Raposa'. No meio dos homens que ouviam o ébrio militar, estava o pacífico dom Diego de la Vega, herdeira da família mais fica da Califórnia e talvez de todo o México.

Pedro fazia bravatas regadas a álcool alegando que esse 'Señor Zorro', como era conhecido, não passava de um assaltante protegido pelos freis que chegara inclusive a rasgar um Z no rosto de um soldado com sua espada. Rogando aos céus, o sargento pedia a oportunidade de enfrentar o bandoleiro que ficara conhecido como 'A Maldição de Capistrano' justamente por ser avistado com frequência naquela região.

Ao ver que uma tempestade se formava, dom Diego pediu licença àqueles que estavam na taberna e se retirou de volta para sua casa, levando um pote de mel.

Pouco depois, uma rajada de vento escancarou a porta do estabelecimento e nele o próprio Zorro adentrou. Segurando um revolver - arma que pouquíssimos usavam ou sequer podiam comprar naquela época - ele ordenou que todos os presentes se amontoassem num canto, menos Gonzales.

Sacando sua espada, o cavaleiro desafiou o sargento, dizendo que o puniria por este ter espancado um índio inocentes a alguns dias atrás.

A luta foi rápida e logo nos primeiros cinco movimentos Zorro desarmou Pedro, mandando sua espada para longe. Depois disso e de diversos comentários de ridicularização, o cavaleiro solitário deu uma surra no antes valente sargento e disse que esse era seu castigo por abusar dos mais fracos. Ao perceber que o ruído da luta atraíra a atenção de outras pessoas para a taberna, Zorro se atirou contra a janela do local, caindo sobre seu cavalo e desaparecendo na escuridão da noite tempestuosa.


História principal:

Na manhã seguinte, quando a chuva cessou, dom Diego foi fazer uma visita à fazenda de dom Carlos Pulido, um homem de sangue nobre mas cujas desavenças com o governador haviam arruinado.

Durante a conversa, Diego explicou que seu pai Alejandro - o homem mais respeitado e influente do México - desejava que ele se casasse logo e, portanto, ele estava pedindo a autorização de Carlos e sua esposa Catalina para cortejar sua filha Lolita, de dezoito anos.

O casal concedeu-lhe esse direito com todo o orgulho que poderiam sentir, pois uma aliança com a familia Vega poderia resolver todos os problemas de Carlos. No entanto, Diego e a jovem Lolita não se entenderam, pois ele não se mostrou um homem de ação, tampouco romântico e viril. Assim, chateada, ele se despediu dele e foi para a varanda afim de aproveitar a hora da sesta.

Pouco depois o sono leve da jovem fora interrompido pelo notório Zorro, que alegava estar lá apenas para apreciar sua beleza. "Sou um ladrão, mas também um homem... e por uma única ordem de seus doces
lábios enfrentaria sozinho uma horda"
, disse ele. A jovem sentiu-se apaixonar aos poucos.

A moça passou o dia todo pensando no aventureiro mascarado que ousara beijar suas mãos naquela tarde cálida, quando algum bateu à porta de casa.

Para a surpresa de todos, era o Zorro, que estava lá para pedir comida a dom Carlos. Desesperado por estar com um criminoso procurado em sua casa, ele mandou que um servo fosse até o presídio avisar as autoridades enquanto ele tentava ganhar tempo, enrolando o cavaleiro solitário.

Num estante de distração do pai, Lolita avisou ao bandido que os soldados logo chegariam e só então o intrépido herói percebeu que a casa já estava cercada. Com um rápido movimento de espada, ele cortou todas as velas da sala, mergulhando o cômoda na mais profunda escuridão. Os soldados invadiram o lugar, mas tudo que ouviram foi o galopar dos cascos do cavalo de Zorro.

Enquanto os soldados adentravam a noite no encalço do fora-da-lei, o capitão Ramon ficara e sem cerimônias fez gosto de aceitar a hospitalidade dos Pulido.

Ao ver Lolita o capitão começou a cortejá-la. Percebendo a rejeição da moça, ele passou a se gabar de suas habilidades dizendo que ainda traria Zorro morto, a quem ele injustamente chamou de assassino. Mas a moça ainda o repudiava. Então, ofendido, ele passou a desfazer dela e de sua familia, dizendo que seu sangue nobre tinha apodrecido ao cair em desgraça perante o governador.

Nesse momento Zorro saltou de dentro de um armário onde estava escondido e desafiou o capitão.

Chamando Ramon de mentiroso, o herói de Capistrano caçoava das habilidades do militar ao esgrimir. Furioso, o jovem soldado lhe desafiou: "se conseguires, me fira no ombro direito". Mal terminou sua frase e a espada do mascarado varou seu ombro direito o derrubando ao chão.

Zorro havia treinado seu cavalo para fugir sozinho enquanto ele se escondia para despistar as autoridades. Mas ao ouvir os sons do galopar dos cavalos do exército, o herói assobiou chamando seu garanhão de volta e crusou veloz como um relâmpago a cozinha dos Pulido, saltando sobre seu cavalo e finalmente desaparecendo na noite.

No dia seguinte, preocupado com o fato de Zorro ter visitado a fazenda dos Punido, dom Diego convidou a familia para passar um tempo na sua casa. Ele estaria fora, em visita a Hacienda de la Vega, a propriedade de seu pai. Ramon, por sua vez, reuniu todos os homens do presídio e ordenou que caçassem Zorro, pois ele queria ver o homem que o humilhou morto.

Já em Monterey, dom Carlos Pulido percebeu que o simples fato de ele ser um convidado na casa de dom Diego já restaurara boa parte do prestígio que a perceguição do governador havia tirado dele.

De noite o dom fora juntamente com sua esposa à casa de um dos nobres da cidade, deixando Lolita sozinha. A menina estava encantada com a riqueza dos moveis de dom Diego e intrigada com o fato de um homem tão covarde e preguiço manter livros sobre esgrima, equitação, romance, violão e táticas militares... livros que pareciam muito manusiados.

Então na porta da frente surgiu o capitão Ramon, que empurrou o funcionário de Diego e obrigou-o a deixar entrar. Lolita pediu para que o capitão não entrasse, pois as pessoas poderiam pensar mal de um homem sozinho com uma dama na casa do pretendente dela.

Então Ramon começou a fazer pouco de dom Diego em sua própria casa e se aproveitando de sua ausência. Por fim o militar agarrou a jovem e tentou beijá-la a força.

Como uma assombração, Zorro apareceu dentro da biblioteca onde estavam. Devivo ao ombro machucado de Ramon, o herói não usou nenhuma arma, mas deu-lhe uma grande surra, fazendo com que se ajoelhasse, implorasse desculpas a senhorita e, por fim, chutando o homem para fora da casa como se fosse um saco de lixo. Em agradecimento, a apaixonada Lolita beijou seu protetor mascarado e, depois, ele sumiu.

Humilhado, Ramon voltou ao presídio onde escreveu uma carta mentirosa para o governador acusando os Pulido de auxiliarem Zorro.

O herói invadiu o prédio se aproveitando de que a maioria dos soldados estava fora à sua caça e deu mais uma surra em Ramon, ordenando que ele deixasse os Punido em paz. Contudo, ele ouviu o som dos cavalos dos soldados se aproximando: eles estavam de volta.

Fazendo o capitão de refém, Zorro saiu pelo presídio e cavalgo escuridão a dentro sendo perceguido de perto pelos soldados. Um a um ele ia vencendo até que ganhou uma distância razoável e desapareceu completamente, sem deixar rastros.

Esperto, o sargento Pedro Gonzales sabia que estavam perto da residência do frei Felipe, um idoso religioso muito conhecido por ajudar os fracos. Os soldados cercaram a casa do frei e o forçaram a abrir a porta em busca do herói mascarado. Mas, para o espando de Gonzales, a única pessoa que ele encontrou lá dentro além do próprio frei era dom Diego, que estava descançando da jornada de volta da casa de seu pai.

No dia seguinte, próximo ao meio dia, Diego voltara a Monterey e fora surpreendido por uma cena que jamais poderia imaginar: o frei Felipe estava sendo arrastado por soldados e tinhas diversas marcas que denotavam espancamento.

Ele estava sendo acusado de ter enganado um comerciante de couro e durante seu jugamento ele disse ao magistrado que aquilo era um ultrage e que só estava sendo punido por discordar dos abusos absurdos do governador e seus comparsas igualmente corruptos. O magistrado então condenara a frei a pagar o comerciante e a levar quinze chibatadas: cinco pelo roubo alegado e dez por insultar o governador.

O idoso frei aguentou os golpes de chicote sem esboçar um sinal de dor que fosse.

Ao anoitecer o comerciante mentiroso e seu assistente, que foram mandados pelo governador para acusar injustamente o frei, estavam comemorando quando, na volta para casa, foram abordados pelo Zorro. O herói arrancou a camisa de ambos e açoitou-os brutalmente, em retaliação ao tratamento injusto recebido pelo frei.

Pouco depois o herói se dirigiu a taberna, onde fez sete homens de refém juntamente com o magistrado corrupto que mandou açoitarem o frei. Com sua pistola ele conduziu todos a um peloutinho, onde ordenou que arrancassem a camisa do magistrado e cada um o açoitasse quinze vezes. Ameçava, ainda, dizendo que se visse alguém batendo fraco, não seria clemehte e atiraria contra essa pessoa.

O taberneiro avisou as autoridades e pouco depois havia mais de uma dúzia de soldados atrás do Zorro. Ele enfrentou e venceu cada um deles e ainda por cima chicoteou o taberneiro por sua traição.

Zombeteiro, saiu pela noite dizendo que não havia soldados o bastante pra tornar a luta interessante.

Um grupo de cerca de trinta jovens nobres - das famílias mais ricas da California - armou-se e decidiu perseguir o Zorro. Havia quatro caminhos a se tomar, sendo um deles escolhido pelos soldados. O grupo de jovens de dividiu em três e cada destacamento de dez rapazes seguiu uma estrada diferente.

Ao chegar na imponente Hacienda de la Vega, encontraram o poderoso dom Alejandro conversando com seu filho Diego e pediram hospedagem, pois estavam exaustos de caçar o "Señor Zorro".

Enquanto Diego ia dormir, os jovens e seu pai comemoravam ao som de música, risos e na companhia de caríssimas garrafas de vinho. Em dado momento um rapaz levantou-se, erguendo sua espada e dizendo que gostaria que Zorro estivesse lá. E uma voz que vinha da porta respondeu: "Señores, ele está".

Injuriado dom Alejandro desafiou o salteador para uma luta, mas este alegou que estava lá apenas para conversar. Todos na sala - nobres de fortunas e influência incomparáveis - conheciam muito bem a podridão do governo e, apesar de nada fazer, se irritavam ao ver a forma como os pobres, índios e freis eram tratados. O que Zorro tinha a sugerir é que aqueles jovens bem-nascidos se unissem a ele - simplesmente pela sede de aventura - na defesa dos oprimidos. Sábio, dom Alejandro decidiu apoiar Zorro e os jovens o seguiram com entusiasmo, decidindo que daquela noite em diante seriam um grupo secreto conhecido como 'Os Vingadores'. O mascarado prometeu que assim que tivesse um plano avisaria um deles, que repassaria o recado aos demais. Dito isso, a Maldição de Capistrano saltou pela varanda e desapareceu na noite.

No dia seguinte a carta que Ramon enviara a Reina de Los Angeles finalmente mostrou seu efeito e o governador chegou em Monterey. Mentiroso, o capitão disse ter certeza de que os Pulido ajudavam Zorro pois este estava na fazenda deles e depois na casa de dom Diego quando eles eram seus hóspedes.

Os olhos do cruel governador brilharam e ele mandou metade de seus homens a fazenda dos Pulido. Eles seriam presos por traição ao governo... a familia toda.

A prisão de dom Carlos, Catalina e Lolita fora um ultraje. O governador, ainda por cima, pagou peões para insultar a familia e jogar coisas neles. Quanto mais os Pulido fossem humilhados, mais feliz o governador ficaria. Por fim os três foram jogados numa cela imunda com estupradores, prostituras e assassinos.

A prisão daquela familia claramente inocente serviu apenas para enfurecer os jovens nobres e reacender o ódio pelo governador nos corações dos aristocratas mais velhos.

À noite, porém, Zorro convocou seus vingadores para o resgate de dom Carlos e sua familia.

Ajudado por 26 jovens nobres armados e mascarados, o heróis entrou no presídio e libertou os Pulido. Carlos não queria ser resgatado e foi levado contra a vontade. No entando, alguns soldados flagraram o acontecimento e a batalha começou. Zorro e todos os seus companheiros conseguiram fugir, dividindo-se em três grupos: um levaria Carlos para Pala, outro levaria dona Catalina para a fazenda de dom Alejandro e Zorro levaria Lolita ao frei Felipe.

Depois de uma longa fuga, Zorro deixou sua amada na casa de frei Felipe e entrou com seu cavalo na casa de um nativo que era seu amigo, desaparecendo assim da estrada sem deixar pistas.

Contudo, o sargento Pedro Gonzales era um homem esperto e mais uma vez se dirigiu à casa do frei, que voltou a invadir e ordenou que seus homens buscassem pelo herói ou por um dos prisioneiros resgatados. Lolita foi encontrada escondida atrás de um grande amontoado de couro.

Mas apesar de todas as chances estarem contra ela, a jovem nobre agarrou uma faca de curtume e apontou contra o próprio peito, ameaçando se matar. Gonzales sabia que, por ter sangue nobre, ela não deveria ser tratada como um criminoso qualquer e teve medo da ira do governador no caso de a moça morrer ou se ferir e, por isso, deixou Lolita fugiu. A jovem montou seu cavalo e rumou o mais rápido que podia para Monterey.

Entrementes Zorro voltou ao presídio, se aproveitando de que o capitão Ramon estaria sozinho lá. Rapidamente ele fez o militar de refém e ordenou que este o levasse até a casa de dom Juan Estados, um fidalgo da região que estava hospedando o governador.

Fazendo também dom Juan e o governador de reféns, o fora-da-lei forçou Ramon a contar que mentiu na carta que mandara ao palácio do governo e, portanto, fora deposto de seu cargo, caindo em desgraça.

Finalmente Zorro desafiara o ex-capitão para um ultimo duelo. O ódio de Ramon lhe dava forças, ao passo que tornava seus movimentos descuidados. Aos berros o governador dizia que se o ex-militar conseguisse derrubar 'El Zorro' teria seu cargo de volta. No entanto Ramon teve o estômago perfurado pela lâmina do herói e em seu rosto recebeu três cortes que formavam um Z - a marca do Zorro.

Ao sair da casa de dom Juan, o mascarado percebeu que já havia amanhecido. Pior: dos quatro únicos caminhos que ele poderia percorrer três estavam repletos de soldados voltando a Monterey e o quarto trazia Lolita fugindo em disparada de Gonzales e seus demais perseguidores.

Acolhendo sua amada em seu cavalo, Zorro se dirigiu à taberna, onde expulsou todos que estavam e fez uma barricada na porta. Para o casal de amantes, o fim parecia certo.

O lugar estava cercado e o governador ordenava aos quase cem soldados que invadissem o local e matassem o fora-da-lei. Houve um intensa troca de tiros e, quando as balas do cavaleiro solitário terminaram Lolita fez um ultimo pedido: queria ver seu verdadeiro rosto.

Porém o barulho de confusão fez os soldados cessarem fogo e Zorro olhou por entre uma fresta.

Vinte e três dos 26 rapazes que auxiliaram Zorro no resgate dos Pulido estavam se aproximando, com suas melhores roupas e sem máscara. Se colocando entre os soldados e a porta da taberna, eles exigiram que Zorro e os Pulido fossem perdoados de seus crimes.

Ao ver dom Alejandro, o governador se aliviou. Porém, ao pedir ajuda do aristocrata mais poderoso do México, o político apenas descobriu que os Vega também apoiavam o Zorro. Ter dom Alejandro de la Vega e vinte e três jovens representantes das familias mais ricas da California contra si seria loucura, então sem escolha o governador decidiu perdoar tanto Zorro quanto os Pulido.

Gonzales suspirou triste, pois a recompensa era o que ele mais queria.

Então ouviu-se uma risada vinda do teto da taberna e 'El Zorro' disse que mandaria o taberneiro servir o sargento um tanto de vinho equivalente ao preço da recompensa. Contrariado, o sargento disse para si mesmo: "É um cavalheiro mesmo".

Por final o herói mascarado mandou que Lolita fosse buscar seus pais e cavalgou para longe, empinando seu garanhão negro no horizonte - bem na linha do sol nascente.

Onde houver injustiça, os californianos sabem que poderão contar com Zorro - a Maldição de Capistrano.










Encerramento:

Poucos minutos depois, num enorme saguão abaixo da residência de dom Diego de la Vega Zorro retira a máscara e se revela para o fiél mordomo mudo Bernardo como o filho de dom Alejandro.

Aos quinze anos de idade ele viu um amigo seu nativo e idoso sendo espancado por soldados só por não ser branco. E depois disso começou a reparar como os homens da lei molestava os freis e tomava deles seus poucos pertences, terras e direitos. Por isso, em seus estudos na Espanha, ele se tornou um esgrimista brilhante, bem como estrategista notável e cavaleiro com habilidades inigualáveis.

Sendo assim, sarcástico, ele diz a Bernardo o que o 'covarde' dom Diego vive dizendo a todos para não levantar suspeitas: "Estes são tempos turbulentos... um homem sequer pode meditar ouvindo música e lendo poesias". Assim, covarde e amigo dos sargentos, Diego sempre faz Zorro estar um passo a frente deles.

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Nota: essa história é baseado na novela de Johnston McCulley chamada "The Curse of Capistrano", sendo que tomei a liberdade de usar alguns aspectos da famosa serie de TV do personagem criada pela Disney. O uniforme, que pode parecer bastante estranho, é exatamente o descrito nesse conto. Só tomei a liberdade de mudar o final pois, como McCulley não imaginava o sucesso de seu próprio personagem, no final da história original Zorro tira a máscara na frente da cidade toda, revelando sua identidade para todos O texto e os desenhos aqui contidos foram feitos por mim mesmo.

Grato pela atenção e esperando que gostem,
Ricardo.

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